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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

Sab | 17.12.16

Tinham dito que a vida ia mudar mas...

Ana

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...ninguém me avisou que eu teria que dormir aos solavancos, por entre as mamadas, as trocas de fraldas e as cólicas do bebé. Ninguém me contou que, se conseguisse dormir três horas seguidas, isso seria um feito extraordinário. E ninguém me explicou que, no princípio, ia sentir muitas dores a amamentar.

 

Ninguém me disse que devia aproveitar as sestas do bebé para dormir também. E que talvez fosse preciso "fechar os olhos" à desarrumação da casa, porque o ato de descansar passaria a ser mais crucial.

 

É certo.... disseram-me que o meu mundo se ia virar ao contrário... Mas ninguém avisou que nunca mais teria tempo para almoçar, jantar ou até mesmo lanchar em sossego. Que  o café do pequeno-almoço iria ficar esquecido na chávena. Que o "prato completo" seria substituído por uma sandes de atum devorada à pressa "antes que o bebé acorde". 

 

Não há nada como o sorriso deles. Não há maior aconchego para o coração que vê-los a crescer felizes. Mas ninguém me disse que nunca mais ia ter privacidade para ir ao WC. Que muitas vezes teria que aguentar a bexiga até eles adormecerem. Que teria que aprender a fazer chici de pé (uma mão na sanita e outra a segurar o bebé para evitar que ele mexa no piaçaba) e a  fechar as portas com golpes de ombro. Que teria que cozinhar só com um braço. Para nunca lhe faltar colo. 

 

Disseram-me para aproveitar bem os meses de gravidez. Não há dúvida que me disseram para ir ao cinema, sair com as amigas e namorar bastante com o meu marido. Pena não terem insistido mais! Nada me preparou para o que aí vinha.

 

Ninguém me avisou que o cinema seria substiuído por canais cabo, que os jantares de amigos seriam adiados "porque o bebé está doente". E que as conversas animadas do casal, muitas vezes, seriam substituídas pelo silêncio do cansaço.

 

Olho-me ao espelho  e o que vejo? Vejo um boneco desgrenhado, com os cabelos cheios de sopa seca, a camisola cheia de nódoas de banana, os sapatos há várias semanas por engraxar. Vejo uma mancha negra no sítio em que tentei colocar o rímel à pressa. Vejo que, sem querer, coloquei duas lentes de contato no mesmo olho. Quem é esta? Não sei. Ninguém me avisou que eu me ia perder de mim. 

 

Disseram-me que os cinco meses de licença iam fortalecer os nossos laços . Mas ninguém me falou da solidão. E da lentidão com que as horas passam quando se está um dia inteiro sozinho. Ninguém me avisou que, por mais que amasse o meu filho, ia sentir saudades de conversar com uma pessoa adulta, sobre temas adultos, num local adulto. Em vez de um tapete cheio de brinquedos.

 

Passou pouco mais de um ano desde que o meu tesouro nasceu. E hoje foi mais um dia da minha vida de mãe. Não há dúvidas que é uma vida dura, cansativa, stressante, mas sabem que mais? Vale tanto a pena!

 

Adoro o meu filho. Ele é o meu maior bem, o meu maior tesouro. Todos os dias me faz sorrir. Todos os dias dá-me força para viver. Todos sacrifícios valem a pena, para o fazer feliz. E no final do dia, todas as dificuldades são relativizadas pelo aconchego de um abraço. Pela visão ternurenta de um bebé tranquilo agarrado ao seu ursinho, a dormir. 

 

Se é difícil ser mãe? Sim. Mas não me arrependo nada de o ter sido. 

Ninguém me avisou que podia haver um amor tão grande. Ninguém avisou para não estragar a surpresa.

É que os segredos mais doces... são para guardar.