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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

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Dom | 01.03.20

Sobre as más companhias

Ana

Podem até achar que não. Mas nos meus tempos de adolescente, início dos anos 90 do século passado, os desafios impostos aos pais eram praticamente os mesmos de hoje.
Garantir a segurança das crianças... semear bons valores, promover o sucesso na escola e... claro está, afastar-nos das "más companhias"!
Eram estas as preocupações dos nossos progenitores.
Mas havia uma diferença abismal entre aquilo que se chamavam "más companhias" no passado, e o conceito de más companhias de hoje.
Nos anos 90, as más companhias eram pessoas reais, com quem nós, efectivamente, contactávamos. Podiam ser amigos da rua, colegas de escola ou membros da equipa de futebol... Eram rostos reais, aqueles que atemorizavam os nossos pais e os levavam muitas vezes (em último recurso) a mudar-nos de turma ou de escola...
As más companhias eram o Manel que nos queria iniciar nos charros e nos levava para trás do pavilhão da escola com uma palete de tentações no bolso. Era a Margarida, rapariga sabida e muito rodada nas lides da sensualidade, que nos despertava a curiosidade para assuntos que nos faziam corar.
Era o Pimenta, duas vezes repetente e que acabou por ir parar à Tele-Escola, que nos aliciava a ir roubar coisas para o Pingo Doce... só porque dava pica.
Esses eram os amigos que os nossos pais queriam ver longe, longeeeee!
E era por causa desses amigos que levávamos alguns bons tabefes, ora porque começávamos a cantar de galo como o João (vê lá se baixas a bolinha, que cá em casa não cantas!) ora porque faltávamos a uma aula para ir com a Sónia comprar gomas à loja do senhor Jacinto.

Hoje não.

Os demónios que causam insónias aos pais já não se chamam coisas normais. Chamam-se Dr. X, Super Zen e coisas que tal.
Já não são miúdos da escola: são youtubers, pessoas virtuais.
Já não são adolescentes como o nossos filhos! São muitas vezes adultos, se bem que apenas em idade cronológica.

Os heróis dos nossos filhos já não são atores de cinema.
Os exemplos que os nossos filhos querem seguir, já não são os exemplos dos pais, e a verdade é que bocejam de tédio com as lições que lhes queremos ensinar.
A sabedoria que os nossos filhos querem assimilar, já não é a dos professores. É a sabedoria de um indivíduo qualquer que decidiu que era giro ser influencer.

Quando um youtuber acaba com a sua namorada em direto, fazendo-a chorar baba e ranho e esse vídeo tem milhares de visualizações.... isto dá um bocado de medo.

Eu não vou dizer que "no meu tempo é que era bom". Nós também tínhamos a nossa dose de parvalheira, mas pelo menos éramos originais.

Quando o David se lembrou de queimar borrachas numa aula de oitavo ano e tivemos todos que sair da sala porque ninguém aguentava o cheiro a queimado... isso foi assim a modos que indecento-parvo.
Mas pelo menos a ideia foi dele (terá registado a patente?), não a copiou de nenhum canal de youtube.

Hoje, os youtubers ensinam História, Geografia e Ciências aos nossos miúdos. Eu própria uso muitos vídeos de Youtubers "bonzinhos" nas minhas aulas. E os alunos adoram.
Mas depois também há aqueles que ensinam racismo, desigualdade e desconsideração. E está tudo metido no mesmo saco; o saco da internet.

Podemos mudar o nosso filho de turma ou de escola, mas estes "amigos da onça" vão acompanhá-lo sempre. Estão metidos no seu telemóvel, que pode ser consultado a qualquer momento e a qualquer hora. E parecem levar sempre a melhor.

Tempos difíceis, aqueles em que vivemos. Mas não vale a pena chorar pelos riscos que os nossos filhos correm na internet.
Estanquemos as lágrimas de desespero. E entreguemos todos os lenços de mão àquela rapariga desolada, cujo namorado youtuber humilhou em direto.

Neste momento, ela será ex-namorada de um dos rapazes mais famosos imbecis do país.

Choremos por ela.

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