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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

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Seg | 14.01.19

Respeitar os horários do infantário: bom para os que vão e melhor ainda para os que ficam

Ana

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Imagine que o seu patrão lhe concedeu uma tarde livre. Isso é excelente, não é? Mais ainda, se estiver um lindo dia de sol.

Você tem, por norma, um quotidiano preenchido e sente que não está a passar muito tempo de qualidade com os seus filhos.

A primeira coisa que vai pensar quando souber que está de folga é: "Vou já buscar o meu filho ao infantário!".

 

E se eu lhe disser que esta ideia poderá não ser tão genial?

 

Quer dizer... parece ser algo espetacular... e você sente-se um excelente pai/mãe por ir buscar o miúdo mais cedo.

Mas dada a dinâmica das creches/infantário, muita coisa pode correr mal. Vejamos:

 

Os bebés da creche costumam almoçar entre as 11:30 e as 12:00. Se você chegar lá por volta do meio dia, vai encontrar uma série de miúdos em fila, nas suas cadeirinhas da papa, sendo que uns já comeram e outros ainda estão a ser alimentados.

Se o seu pequeno ainda não tiver comido, vai criar-se um stress desnecessário. Isto porque o bebé tem fome (está habituado a comer aquela hora) e se você decidir leva-lo a casa ou ao restaurante, o mais certo é ter que enfrentar pelo caminho o seu choro esfomeado.

Se por acaso, a escolha recair sobre as 13 horas... lembre-se que a esta hora as crianças costumam dormir a sesta. A sesta é obrigatória nas creches e continua a ser (felizmente) uma prática em muitos jardins de infância por isso...

... interromper a sesta de uma criança não é muito boa ideia, já que as sestas são essenciais para reparar as energias gastas da parte da manhã e reequilibrar as emoções.

 

Por volta das 15 horas, a maioria das escolas começam a organizar o lanche e você pode pedir à educadora para levar o seu filho embora nesta altura. Não se esqueça, contudo, que está a interromper uma rotina já instaurada que é familiar e dá segurança à criança. 

Prepare-se. O seu filho vai ficar feliz por vê-lo, mas também surpreendido e até um pouco desconcertado. 

 

Segundo estudos académicos  "por vezes, tem-se noção de que as rotinas (prestação de cuidados) em contexto de creche são tarefas banais, não merecendo a grande importância que realmente têm". Contudo, "Na educação das crianças mais novas a relação inextricável crianças-rotinas-bem estar surge no quotidiano do ambiente educativo como um dos aspetos mais importantes a considerar pelos profissionais da infância, pelo impacto que as rotinas têm no bem-estar das crianças e no modo como influem no seu desenvolvimento global e aprendizagem da criança" (Eichman, 2014).

As rotinas transmitem segurança e bem-estar às crianças. Ponto.

 

Se você gosta de seguir as rotinas de sua casa, do seu trabalho, do centro de saúde, dos parques... por que não respeitar as rotinas da escola do seu filho?

 

Se o que disse até agora não chega para o convencer, vou deixar-lhe uma outra questão para refletir: já pensou nos sentimentos das outras crianças? As que ainda vão ficar na escola?

 

Pense nas crianças que ainda têm que ficar na creche mais algumas horas e na ansiedade que lhe vai causar, ao ir buscar o seu filhote mais cedo.

Vou dar um exemplo... Aqui há tempos fui buscar o meu filho mais cedo à escola e tive que lidar com o choro de uma criança que ficou desolada por não ter chegado ainda a sua vez. O meu filho ficou esfuziante por me ver, mas quanto mais saltinhos ele dava... mais a outra criança chorava. Fiquei muito sensibilizada.

Enquanto percorriamos o caminho de saída da escola, essa criança ficou agarrada às grades com lágrimas a correr pelo rosto (era verão, por isso estavam todos no jardim) a perguntar às auxiliares onde estava a sua mãe. Estas tentaram consola-la da melhor forma que sabiam.

 

A verdade, pais, é que nós não somos entidades isoladas. Não vivemos numa ilha...

Para além de nós, existem outras pessoas com realidades diferentes. E existem crianças que não têm a sorte de ter alguém que as vá buscar mais cedo à escola.

Podemos lidar com isso com indiferença ("Quero lá saber, o que interessa é o meu filho, os outros que se danem") ou então... tentar sentir alguma empatia pelas outras famílias. Até porque um dia... podemos ser nós a enfrentar estes fantasmas.

 

Portanto... por tudo o que eu disse agora... defendo que respeitar os horários do infantário é bom para os que vão embora, mas ainda melhor para os que lá ficam.

No jardim de infância do meu filhote, recomenda-se que os pais vão buscar os filhos a partir das 16 horas. Caso os pais apareçam antes desta hora, então pede-se que esperem na receção da escola. Neste último caso, as auxiliares trazem a criança até aos seus pais (sem as restantes crianças da sala se aperceberem) de modo a não causar ansiedade nos que ficam.

Na creche, o horário é mais livre, porque os bebés ainda não têm este tipo de consciência, mas ainda assim apela-se ao cumprimento das rotinas, sempre que possível.

 

Mas então... devemos deitar fora a oportunidade de passar um tempo de qualidade com os nossos filhos. Claro que não. Mas uma vez não são vezes.

Há alturas em que nos apetece mesmo ir buscar as crianças mais cedo (ou leva-las mais tarde). E tudo bem... mas temos que ter sempre presente que, como em tudo na vida, há vantagens e desvantagens nesta atitude.

 

Quando o meu primeiro filho entrou para a escola, eu ficava um pouco confusa com a questão dos horários. Achava tudo muito rígido e inflexível. 

Hoje, com a experiência que tenho no que toca à maternidade e com as vivências que fui acumulando nestes três anos, sou claramente a favor das rotinas no infantário.

 

Fontes: 

EICHMAM. Lara- As rotinas na creche: a sua importância no desenvolvimento:2014. Escola Superior de Educação de Portalegre.

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