Pum, pum, pum!
- Vasco, que fizeste hoje na escola?
- Brinquei.
- A quê?
- Aos tiros. O João (nome fictício) deu-me muitos tiros e eu morri. Pum, pum, pum!! (e faz o gesto dobrando os dedos em forma de pistola)
- Morreste? A sério?! E depois?
- Depois... fui eu a dar-lhe tiros. Muitos tiros.
- Mas não estavas morto, já?
- Sim, mas depois fiquei vivo de novo. E foi a minha vez de lhe dar tiros.
- E então brincaram a isso durante muito tempo? Hum...
- Um bocado. Mas depois fomos andar de escorrega.
Mesmo sabendo que é tudo a fingir, esta brincadeira faz-me um bocado de confusão...
E agora que tenho dois meninos, já estou a imaginar o pior cenário: a minha sala de jantar transformada em palco de guerra daqui a 1 ou 2 anitos!
Cá em casa nunca houve pistolas, nem fisgas, nem armas de qualquer espécie (nem de brincar, nem verdadeiras). Mas não sou ingenua: já sabia que, mais tarde ou mais cedo, estas brincadeiras meias parvocas iam surgir.
Para além da brincadeira ser meio violenta, estranho sobretudo a ligeireza com que a morte é encarada...
Ah e tal, eu estava morto, mas depois voltei à vida e ... pás, acertei-lhe nas fuças. E depois? Ah, depois fomos comer um gelado.
Como em tudo na vida, podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio.
Posso analisar esta brincadeira como algo problemático se pensar apenas na parte dos tiros. E na parte de eles, miúdos, acharem que os mesmos são praticamente inócuos (já que morrem vezes sem conta e regressam novamente à vida).
Quantas histórias já ouvimos de crianças que têm armas em casa e atiram nos seus familiares sem querer, porque estavam apenas a brincar?
Este é, de facto, um tema que me preocupa. Claro que vou trabalhar o assunto e dialogar sobre isso com o Vasco. Quero que ele perceba que, na vida real, os tiros... matam mesmo :)
Mas acima de tudo... sou pelo bem.
Não vejo qualquer maldade nesta brincadeira de miúdos de 2 anos.
Vejo sobretudo, a simplicidade, a inocência e a capacidade infinita de perdoar e fazer as pazes tão carateristica das crianças.
Zangou-se com o seu patrão? Chateou-se com a sua prima? Está amuada com o marido?
Então diga-lhe o que pensa. E depois? Depois... vá comer com ele um gelado.