O "menino no poço" não foi um filme de terror
Eu gosto de filmes de terror. Faço um chá com bolachinhas, enrosco-me numa manta no sofá e, com a luz apagada, preparo-me para duas horas de adrenalina.
Vou seguindo a história com a respiração ofegante. Com um olho aberto e outro fechado. E às vezes mudo de canal quando percebo que vem aí uma cena sangrenta.
Fico sempre à espera que o drama acabe bem, mas depois lembro me que é um filme de terror. É suposto o herói morrer no fim.
Acordei hoje para saber que Julen, o menino de Málaga, tinha sido encontrado sem vida.
Julen morreu como nos filmes. Com a diferença que a vida não é um filme.
Não há chá nem bolachinhas que consigam apaziguar a dor dos que ficam.
Não há manta alguma que nos possa aquecer o coração partido. Nenhum sofá conseguirá alguma vez servir de sustento para acomodar o sofrimento daqueles pais.
Não há pipocas que nos façam distrair do momento.
Não nos podemos levantar e ir embora, deixando o final infeliz para outro dia.
Não há um comando com botão de retroceder, para recuar até à parte da história em que Julen ainda não tinha caído num poço.
A morte de julen é real. Os fantasmas existem mesmo. A dor é infinitamente verdadeira.
É tudo triste e sombrio nesta história. Não é um filme. Está mesmo a acontecer.
E não adianta mudar de canal.