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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

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Qua | 13.03.19

Luz de presença: sim ou não?

Ana

Não sendo um tema tão polémico como a amamentação, ou como o tipo de parto, a verdade é que a questão da luz de presença no quarto das crianças também gera divisão entre os pais.

De um lado, temos os pais que acreditam que a luz de presença confere tranquilidade à criança, transmitindo uma sensação de segurança. Esses pais defendem que a existência da luz vai ajudar a criança a combater os seus medos, evitando até alguns pesadelos noturnos.

Do lado oposto, estão os pais que defendem a escuridão total, como garantia de uma maior qualidade do sono. É nesse grupo que eu me insiro.

 

Os estudos científicos referem que o sono é induzido por uma hormona designada melatonina. A produção desta hormona aumenta à medida que anoitece, e volta a diminuir com o nascer-do-sol.

A existência de obscuridade no quarto é uma condição essencial para a manutenção de níveis elevados de melatonina. Quando introduzimos um factor desestabilizante como é o caso da luz de presença, essa luminosidade (mesmo sendo pequena) vai interferir com a produção da hormona do sono.

Níveis mais baixos de melatonina, conduzem a maior dificuldade em adormecer, e originam sonos mais turbulentos/ligeiros. A probabilidade de a criança acordar mais vezes durante a noite vai aumentar. 

 

Segundo um estudo publicado na revista “Ophthalmic & Physiological Optics”,  a luz azul emitida pelos dispositivos eletrónicos aumenta os problemas relacionados com o sono ao inibir a produção de melatonina. Mas não é apenas a luz dos gadjets que influencia o sono. A luz led branca existente nos candeiros (e em muitas luzes de presença) também tem efeitos nocivos. 

Uma luz branca na cabeceira pode interferir na produção da melatonina da mesma forma que a luminosidade dos smartphones. Isso porque as luzes brancas, habitualmente chamadas de frias, possuem efeito estimulante. Não é por acaso que elas são mais indicadas para ambientes de trabalho, cozinhas e casas de banho.

Os estudos referem ainda que a luz que menos interfere com o sono é a luz vermelha. Por isso, pais, vale a pena tentar adquirir este tipo de lâmpada, caso a criança não consiga mesmo dormir sem luz.

 

É preciso não esquecer que uma boa noite de sono, para além de ter efeitos positivos na saúde (a curto e longo prazo), permite aumentar os níveis de energia e concentração durante o dia. A questão é que só na obscuridade é que a produção de melatonina atinge o seu pico.

 

Mas... como convencer uma criança a dormir sem luz de presença?

 

Em primeiro lugar é preciso que os próprios pais acreditem nas vantagens da ausência de luz. Porque se os pais não estiverem assim tão convencidos... também não vão conseguir convencer os seus filhos. Ao primeiro sinal de desconforto da criança... os pais vão vacilar.

Tanto eu como o meu marido fomos habituados a dormir sem luz de presença nossa infância. Talvez por isso seja mais fácil para a nossa família colocar esta ideia em prática. Basta-nos recordar algumas estratégias que os nossos pais usaram connosco.

 

Nos primeiros tempos, os meus pais faziam-me companhia até eu adormecer. Quando eu adormecia, saiam do quarto, deixando a porta aberta. Sempre que eu acordava mais amedrontada e chamava por eles, os meus pais acorriam ao quarto rapidamente e voltavam a ficar algum tempo comigo até eu me sentir segura novamente. Fizeram isto o número de vezes necessárias até eu me habituar e... perder o medo.

Como o meu quarto era muito próximo do quarto dos meus pais, nunca esbarrei no caminho. Mas, verdade seja dita, também nunca me dirigi ao quarto deles assim tantas vezes. Sabia que assim que os chamasse, eles vinham ter comigo em poucos instantes.

 

Com o meu filho de 3 anos, acrescento ainda outras estratégias. Começo por ler uma história de um livro com a luz de presença acesa. Feito isto, apago a luz e fico junto a ele na cama, até este adormecer. Nos primeiros tempos, ele pedia-me para ficar com a luz acesa e eu anuía, mas assim que ele adormecia, eu apagava a luz e saía do quarto.

Curiosamente, um dos piores pesadelos do meu filho aconteceu numa ocasião em que deixei a luz de presença acesa sem querer: Ele acordou a meio da noite, e viu uma série de sombras projetadas na parede ao pé da cama. Ficou amedrontado pensando que eram monstros e chamou por nós. As sombras tinham sido projetadas devido à presença da luz.

 

Para quem acredita nos benefícios da ausência de luz, deixo apenas mais uma dica. Convém começar logo a retirar a luz nos meses iniciais do seu bebé. Porque os hábitos que se ganharem nesta fase, mais tarde serão mais difíceis de alterar. Se o vosso filhote de 4 anos se habituou a dormir desde sempre com luz de presença, agora vai ser mais difícil mudar essa rotina.

 

E se, mesmo usando todas essas estratégias, o meu filho não consegue dormir no escuro?

 

Não é caso para ficar apreensivo.

Há crianças que não conseguem dormir sem luz. Há crianças que dormem sozinhas, e há crianças que dormem no quarto ou na cama dos pais. E está tudo bem, desde que a família esteja feliz e em sintonia. Como todos sabem, nisto da maternidade não há verdades absolutas.

Neste texto, abordo a minha perspetiva quanto à presença de luz no quarto, mas sei que há outras ideias, outras opiniões. 

Respeitar os ritmos biológicos e hormonais parece-me importante, talvez porque a minha formação académica é no campo da biologia e acredito nas evidências científicas. Ou talvez porque fui habituada assim. Mas se acharem que a noite dos vossos filhotes é mais tranquila na presença de luz... mantenham-na acesa. Proponho apenas que se informem e decidam de modo fundamentado em relação a este assunto.

 

A questão da luz de presença é importante, mas a verdade é que há questões de maior relevância no que toca ao contexto familiar. O essencial é que a família respire saúde e tranquilidade. Que a família seja viva e luminosa por dentro. Sem mágoas, sem negligência, sem indiferença, sem agressividade...

E nesse aspeto, com ou sem luz no quarto... o importante é que "haja luz". Sempre!

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