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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

Ter | 03.07.18

Intuição infantil?

Ana

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O meu filho é um miúdo meigo e ternurento, mas ontem estava um pouco mais doce ainda que o normal.

Portou-se lindamente, desde o momento em que o fui buscar à creche até ao final da noite. Foi um daqueles dias 5 estrelas.

Não fez birra no supermercado, e deixou-me fazer compras à vontade.

Não chorou para sair do corredor dos brinquedos.

Chegando a casa tomou banho alegremente e comeu o seu jantar sem grandes fitas. A cozinha ficou (quase) limpa.

Depois do jantar pediu-me várias vezes que brincasse com ele. Apesar de sentir algumas dores, aceitei.

Estivemos bastante tempo sentados no tapete a brincar aos "acidentes" e "tinonis" com os carrinhos e as pistas de automóveis. 

No fim, fez chichi no pote, lavou os dentes e bebeu o leitinho.

Deitou-se no chão da sala e preparou-se para dormir. Deitei-me ao pé dele e apaguei a luz.

Fiquei a pensar se aquele não seria o último dia dele como filho único.

E ao mesmo tempo que pensei isto, com impulso agarrei-lhe a mão de mansinho.

Como se de repente pressentisse o mesmo, o meu filho abraçou-me e fez-me festinhas no rosto com uma doçura maior que costume.

Quando o senti adormecer, tentei levantar-me, mas logo desisti quando ouvi um "não vás, mamã".

Fiquei mais tempo, até o sentir verdadeiramente a dormir, sempre a fazer-lhe miminhos. 

Abandonei a sala com o coração cheio de mel. 

Antes de virar para o corredor em direção ao quarto, olhei de relance para o meu filho.

Dormia tranquilamente com ar satisfeito.

Meia hora depois, o pai foi busca-lo para o levar para a sua verdadeira caminha no quarto. É este o nosso ritual.

 

Foi ali.

Foi ontem.

Naquele gigantesco abraço.

Foi naquele momento que (não tenho dúvidas) fizemos a nossa despedida de "filho único". 

Um momento só nosso e muito, muito especial.

O fim da nossa família como ela era. E o princípio de algo novo e diferente.

Não sei se o parto é hoje, não sei se é amanhã, se é depois. Mas agora sei, graças ao meu filho... que está para muito, muito breve.

 

Chamem-me louca, mas acredito que o meu filho previu que o "momento" está próximo.

E quis ter-me só para ele mais um tempinho. 

Daí o portar-se bem.

Daí a tamanha sofreguidão por mimos e abraços.

 

Talvez ele ainda não saiba que o amor de mãe não se esgota, nem se divide. 

Multiplica-se. 

Mas vai saber em breve.

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