Hoje lembrei-me
O pudim da minha avó.
O pudim da minha avó era para gente gulosa.
Não era para magros, não. Nem para a malta das dietas.
Nem para os amantes da aveia, das sementes, ou das infusões.
Pesadão e calórico, sem qualquer pretensão de ser light.
Era um pudim descomplexado. Feito à medida daquela avó, grande e volumosa.
Que apesar de gordinha, nunca se negou a um bom repasto.
O pudim da minha avó era suave e aveludado.
Sem grumos, desfazia-se rapidamente na boca.
Tinha uma textura macia como já não se vê por aí.
A minha avó, cozinheira prendada, fazia o pudim com dedicação. Com gestos lentos e delicados. Com um sorriso no rosto.
Sempre dócil, tão meiga… Nunca a vi zangada!
Quanto muito, barafustava, mas sempre em pianíssimo.
O pudim da minha avó era tão doce como mel.
E a minha avó, terna e conciliadora, era doce como um pudim.
O pudim da minha avó era misterioso.
Tudo por culpa da minha avó, e da sua forma estranha de comunicar.
Pois era “uma mão de açúcar”, e “nove ou dez ovos”. Mais “um bocadinho de água” e “algum” caramelo.
A sua receita era tão secreta como indeterminada.
E um pudim que é inquantificável, não se pode reproduzir.
Agora que me ponho a pensar, vejo que a minha avó também nunca falou muito de si.
Tenho pena de não a ter conhecido melhor. Arrependo-me de não ter conversado mais com ela.
Tal como o pudim, a minha avó partiu sem se dar verdadeiramente a conhecer...
Levou consigo todos os segredos.
Deixou-nos com água na boca e um vazio no coração.
Nota:
Fui por estes dias a uma festa e comi um pudim maravilhoso. Estava quase, quase tão bom como o pudim da minha querida avó!
Tenho tantas saudades dela que até doi. Infelizmente, já não está entre nós.
Como me sentia inspirada, dediquei-lhe o poema que se encontra acima. As avós deviam ser eternas. Não acham?