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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

Qui | 13.04.17

Há uma linha que separa...

Ana

... as pessoas que têm filhos daquelas que não os tem. E essa linha, essa barreira, chama-se muitas vezes "incompreensão". 

 

Já não é nova aquela história de que há um afastamento entre os amigos, quando um deles decide ter filhos. Se durante a gravidez esse fenómeno pode passar despercebido, há medida que o tempo vai passando... os  cafés e os convívios começam a ficar mais espaçados.

 

No último trimestre de gravidez, por exemplo, há sempre pormenores a ultimar e por muito que tentemos tirar o assunto "bebé" da mente, a verdade é que damos por nós a falar do assunto por dá cá aquela palha. Isto pode ser muito, mas mesmo muito irritante para os amigos que ainda não passaram pela experiência da maternidade... 

 

A coisa fica ainda mais complicada depois de o bebé nascer. Os três primeiros meses são tão absorventes! Se a isto adicionarmos as cólicas do bebé, as noites mal dormidas, o cansaço e a necessidade de amamentar de 3 em 3 horas, não sobra muito tempo para convívios, convenhamos.

 

Por outro lado, é nesta altura que começamos a sentir-nos bem melhor a conversar com pessoas que já têm filhos. Pessoas que compreendem os nossos dilemas, que percebem e aceitam sem dramas quando nos atrasamos para um jantar por causa das crias, pessoas que também estão a passar pelo mesmo e com quem podemos desabafar. Pessoas que nos podem dar conselhos, partilhar experiências... tudo isto sem nos acharem aborrecidos.

 

Neste momento, estou a falar do lado dos pais. E do lado dos amigos que não têm filhos, como é que a coisa fica?

 

Bem... inicialmente esses amigos sentem-se um pouco abandonados. Caramba! Visitaram o bebé, ligaram aos pais, mas... parece que os lanches e os jantares em comum deixaram simplesmente de existir!

 

Já passei por isto quando as minhas amigas tiveram as suas crias. Subitamente, tornaram-se muito pouco disponíveis para mim. De certo modo, senti-me traída, e um pouco magoada...

 

De repente as minhas amigas tinham sumido do mapa. Senti-me muito abandonada pelas minhas amigas-mães. Ainda por cima, fui mãe muito tarde, por isso tive esta sensação repetidas vezes, à medida que as minhas amigas foram "emprenhando" :)

 

Agora percebo que não era de propósito... Que o afastamento nada tinha a ver comigo, mas sim com a desgastante e super ocupada experiência da maternidade. 

 

Há outra coisa que entristece as pessoas que ainda não tiveram filhos. É o facto de os temas de conversa da amiga-mãe, a partir de determinada altura, parecerem andar sempre à volta da puericultura. 

 

Lembro-me de estar grávida e de prometer a mim mesma que nunca, MAS NUNCA aborreceria as minhas amigas "não mães" com temas ligados ao bebé.

 

I was so wrong!

 

É tão, mas tão impossível falarmos de outro tema qualquer (sobretudo nos primeiros meses) quando a maior parte do nosso dia é passada com o filhote. 

 

Perdoem-me amigas do coração, quando vos aborreço de morte, comentando as gracinhas e desenvolvimentos do meu filhote! Sei que sorriem com o coração, porque me adoram, mas também sei que estão desertas para mudar para um tema mais interessante, eh eh!

 

Anyway...ultimamente, tenho tentado aproximar-me de algumas amizades que, no último ano fui deixando (sem querer) para trás. 

 

Durante o dia é difícil, pois o V. está a recuperar da pneumonia e estou quase sempre em casa com ele, mas tento marcar uns jantarinhos.

 

Claro, que às onze da noite e sem que nenhuma das amigas-não-mães consiga perceber já estou a bocejar de morte e a sonhar com uma cama, mas tenho adorado estes momentos de convívio.

 

Não poderia deixar de salientar que é também nesses momentos que a linha que nos separa, às vezes fica mais evidente...

 

Recordo-me de num desses jantares ter desabafado um pouco sobre a minha experiência destes dias em que o Vasco esteve doente. Como ele não tem ido ao infantário, temos estado quase sempre só um com o outro (ultimamente a coisa a melhorar, pois ele já vai à rua de vez em quando). 

 

Não é fácil estar desde as sete da manhã às oito da noite em casa com uma criança que é super, mas super reguila e mexida. Mas é difícil explicar isso a quem não tem filhos.

 

Quando comentei, num desses jantares de "desanuviação" (é assim que eu lhes chamo) que quando o Zé chega a casa a primeira coisa que faço é entregar-lhe o Vasco para os braços (para poder ter pelo menos uma meia hora de descanso), responderam-me:

 

- Coitado do teu marido, chega a casa estafado de trabalhar e tem que pegar logo na criança?

 

Não sei o que responder a isto. Há coisas que só quem é mãe é que percebe. Ainda pensei começar a desfiar o rosário do tédio, da solidão, do cansaço que é estar dias e dias seguidos sozinha com um bebé, mas senti que não valia a pena. Seria importante eu dizer que fico mais cansada em casa do que no meu trabalho?

 

 

Mais... seria importante eu dizer que MATERNIDADE TAMBÉM É TRABALHO?

 

Não sei... fiz um sorriso amarelo e já não sei o que disse a seguir. Mas foi certamente algo de trivial e sem interesse.

 

Não há dúvida. Há uma linha que separa as mães das pessoas que ainda não tiveram filhos.

 

Senti essa barreira quando ainda não tinha filhos e achava super estranhas as minhas amigas mães (sempre tão cansadas, sempre a correr, sempre sem tempo para mim). Sinto agora que sou mãe, a barreira da incompreensão que vem do outro lado.

 

Por muito amigas que sejamos (e sei que elas estarão lá para mim, sempre que eu precisar) há coisas que elas ainda não percebem e não adiantar sequer fazer um esquema. 

 

Resta-me esperar que mais algumas passem para este lado da linha. Até lá, continuo a adora-las e elas a mim.

Mesmo assim, tão diferentes não duvido nunca que seremos sempre amigas!