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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

Dom | 07.04.19

Fomos à terra

Ana

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A terra não é minha, que não nasci lá. É a terra da minha mãe. A terra das minhas tias, dos meus avós. De alguns primos.

Chacim, Cabeceiras de Basto. Terra de gente boa. Gente do campo.

Gente que anda sempre cansada, mas feliz.

Gente simples, que trabalha na bouça. Que acorda cedo para dar penso aos animais. Que leva as vacas para o pasto ainda o orvalho cobre os campos e a noite mal se despediu.

Gente sem papas na língua. Por vezes, sem papas na mesa. Gente que come o que a terra dá. Num Portugal que parece parado no tempo, onde a vida passa lenta e sem grande stresse. Como se os calendários e os relógios não tivessem passado por ali.

Gosto de Chacim. Passei lá os Natais, as Páscoas e os verões da minha infância. E sempre que regresso, fica-me um aperto no peito, uma nostalgia.

Saudades da eira dos meus avós onde jantavamos nos dias quentes de verão. Saudades do tanque e dos banhos refrescantes. Saudades da matança do porco, das assas em vinho tinto, dos natais tão frios!

Saudades de tomar banho numa bacia em frente à lareira, saudades dos primos aos saltos em cima da cama na noite de consoada. Saudades de acordar de manhã e procurar as prendas no sapatinho.

A terra não é minha. Mas as recordações pertencem-me. 

As amoras no carreiro entre a casa da avó e a casa do tio. O cantar do galo. O porco que era sempre diferente, mas que se chamava sempre Faustino.

Acordar com de madrugada. Ir com os primos pensar os animais. 

Andar pelos campos sem destino e sem hora de chegar.

A liberdade, os meus avós... tudo... tudo...tantas saudades. Daquela casa velhinha. Daquele caminho estreito. De nós todos. Mais novos, mais fortes. Enfim: mais.

Chacim.

No meio de nenhures. Costumava dizer que era a última aldeia antes do fim do mundo. Porque depois de Chacim, vários quilómetros de floresta e de nada se estendiam até ao próximo lugar. 

Se me dissessem que ia ter tantas saudades, teria brincado mais na eira. Tomado mais banhos. Abraçado mais vezes os que não estão cá. 

A casa dos meus avós já não é nossa. Foi vendida. Resta-nos um caminho estreito, um muro. A capela onde muitos de nós fizeram a primeira comunhão. Alguns campos. A casa dos primos. 

Um fio de gente. E um mar de recordações. 

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