DISSERAM QUE O NATAL TINHA CHEGADO À CIDADE
Que havia luzes de mil cores.
E que as ruas estavam enfeitadas.
E que havia um carrossel. E meninos a brincar.
Mas naquele quarto não havia Natal.
Só luzes fluorescentes
E paredes brancas
E um menino a chorar para fora.
E uns pais a gemer para dentro.
E dor. Muita dor. A toda a hora, a toda a hora.
Disseram que o Natal tinha chegado à cidade.
E havia balões e pipocas e algodão doce.
E um circo. E as ruas cheias de gente.
E havia música pelo ar.
Mas ali não havia natal.
Só agulhas e seringas.
E remédios para tudo.
E um circo de médicos. E o corredor frio.
E o silêncio mudo.
A toda a hora, a toda a hora.
Disseram que o Natal tinha chegado à cidade.
Que havia um homem a fazer Ho, Ho, Ho!
E um combóio pequenino
e um ringue para patinar.
Mas ali não havia Natal.
Só um menino a dizer "Dói, Doi".
Sem dormir e sem comer.
E os pais cansados sem saber
o que fazer.
Mas de repente tudo mudou.
O remédio fez efeito, a dor passou.
Acabou-se o choro, descansaram os pais.
Tirou-se a agulha, acabaram os ais.
O menino deixou de agarrar a barriga
e com olhos brilhantes... sorriu!
Iluminou-se aquele quarto de hospital.
E foi nesse sorriso e nesse instante
que para aquela família
o mundo se iluminou.
E finalmente (oh, e finalmente!) se fez Natal...