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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

Qua | 28.08.19

Ás vezes temos que mudar de óculos...

Ana

(leiam até ao fim para não formarem julgamentos precipitados)

O meu filho mais velho sempre foi uma criança ativa e desembaraçada. Aprendeu a andar com 12 meses, desfraldou sem qualquer problema na altura em que "supostamente" o deveria fazer, e até a chupeta deixou por livre iniciativa... Impecável...

Para além disso, o Vasco sempre mostrou um vocabulário excelente, criatividade, rapidez de raciocínio e memória para acontecimentos do dia-a-dia. Isto para não falar das suas capacidades de argumentação.

Eu tinha todos os motivos e mais alguns para estar cheia de baba a escorrer Tenho em casa um miúdo inteligente e sensível, que desperta sorrisos por onde passa!

MAS…. nos últimos tempos,comecei a ficar preocupada e... até mesmo... ok, vou dizê-lo... desapontada (???).

Parecia que apesar dos meus esforços ele não conseguia acompanhar as outras crianças em alguns sentidos. E o meu coração começou a bater mais forte de apreensão.

E então, que "lacunas" eram estas?

Bem... o Vasco aparentemente (e leiam até ao fim!) tem dificuldade em contar. Com quase quatro anos, arranha até ao número 5 e não mais do que isso. 
Por outro lado, o Vasco demonstra dificuldade em memorizar letras de músicas. Só há pouco tempo conseguiu trautear os parabéns (e com enganos). Eu via os vídeos que as minhas amigas postavam nas redes sociais com as habilidades das suas crias a cantar e a dançar e… sentia-me frustrada, embora sabendo que esse sentimento era estúpido.

Ah, e o Vasco tem dificuldade em estar atento, assim como em ficar sentado a ouvir os professores/pais. Não consegue estar parado. Isso é um facto.

Para além disso denota dificuldade em pintar/desenhar e não mostra qualquer interesse nessa área. Se lhe disserem para pintar dentro da linha em pinta por fora de propósito.

Na coreografia da festa de fim de ano letivo, ufff! O Vasco não acompanhou a dança e mostrou-se indiferente aos gestos que acompanhavam a música. Eu senti-me… envergonhada...

À custa de tanto ver as outras crianças fazerem coisas que o meu filho não fazia, acabei por entrar num processo diabólico de dar valor às coisas más em vez de reparar nos seus pontos fortes. 
Foi um processo inconsciente, mas que se tornou repetitivo até me aperceber que estava a agir mal.

Até porque, como entretanto acabei por perceber, muitas das dificuldades do Vasco não são reais (algumas são, mas não todas), mas aparentes.

Como? PASSO A EXPLICAR.

1- A música

Sim. É verdade. O Vasco nunca chegou a casa a trautear qualquer canção que tivesse aprendido na escola. Até cheguei a duvidar se frequentava mesmo as aulas de música.
Contudo... Ele decora lengalengas se as achar giras, canta os refrões de músicas pop comercial e até faz variações das letras com frases suas.
É criativo, o rapaz!
Ou seja, o Vasco gosta de cantar. Só não acha piada a músicas infantis tipo "os patinhos" e "atirei o pau ao gato". Mas adora funk e kizomba ah ah.

2- Os números

A história dos números... um pesadelo para mim.
Até ao dia em que o observei a jogar às escondidas com a prima, e descobri que afinal ele consegue contar "na boa" até ao 12 (ok, não é muito, mas já não é assim tão mau).

3- As danças

Ui… as coreografias da escola... Que vergonha eu passei quando vi todos os meninos no auditório a dançar alinhados e o meu totalmente desconcentrado e fora de ritmo, a olhar para o lado oposto do palco...
Mas então o Vasco não gosta de dançar?
Claro que sim!! Ele adora!

É só colocar uma música pop mexida que ele fica todo alegre a abanar o capacete. 
Simplesmente... não consegue entrar numa coreografia com outros meninos, porque tem dificuldade em concentrar-se e é tipo bola de neve. Como não consegue acompanhar... acaba por desmotivar.

Para além disso, acabei por perceber que, quando alguma coisa não faz sentido ou não tem interesse para o Vasco… ele não faz qualquer esforço para se alinhar com a manada.

Tenho um filhote muito inteligente e que, apesar dos seus 3 anos, já quer fazer as suas próprias escolhas. Basicamente, só faz, só aprende e só repete… se fizer sentido para ele.

(Muito sinceramente, acho que nos cabe a nós, adultos, dar-lhe essa motivação e leva-lo a perceber o sentido das coisas.)

Ele não vai dizer os número até 10 na minha frente só porque eu pedi. Porque não é nenhum boneco amestrado. Mas sabe os números e usa esse conhecimento quando lhe faz falta!Por exemplo, a jogar às escondidas.

Ele não canta os patinhos, nem o baby shark porque não tem qualquer interesse nisso. Nem faz gestos que considera parvos e sem sentido, só porque sim. 
Mas sabe imensas coisas de cor, como nomes de planetas, marcas e peças dos carros, partes das plantas, nomes de animais!

O meu filho sabe tantas e tantas coisas! Por que é que nós, adultos, nos fixamos naquilo que é “standartizado”?

SÓ UM PORMENOR…

Na semana passada, aproveitando o facto de estar mais tempo com ele, obriguei-o a pintar um desenho com muito cuidado e sem sair da linha. Estava irritada porque estiveram cá em casa uns amigos que pintaram montes de desenhos bem feitos, por isso subornei-o, usei todas as estratégias da parentalidade (in)consciente para conseguir uma pintura de boa qualidade.

Passado meia hora de birras e choros consegui que o meu filho pintasse uma borboleta com as cores certas e “dentro da linha”. Enfim, como fazem os filhos de alguns conhecidos nossos.

Muito satisfeita, “porque afinal ele sabe, ufff que alívio”, peguei no desenho e disse-lhe:

- Vês que giro? Vamos afixar na nossa parede?

RESPOSTA…

- Está bem mamã. Já posso sair do castigo?

CAS-TI-GO???

Eu fiquei branca, amarela, verde, de todas as cores e… caramba, percebi.

Primeiro percebi que ele vai ser uma pessoa muito, muito melhor do que eu.
Acredito que vá ter alguns problemas na vida por causa da sua atitude rebelde, mas não é nem nunca será um seguidor da carneirada. 
Desde que nasceu que tem desafiado os meus limites e sei que vai desafiar os limites em muitas áreas da vida. 
Preocupa-me, por um lado. Maravilha-me, por outro.

Por que raio tentamos transformar as crianças em mini génios, mini artistas e mini adultos sem sal?

Quantas vezes “castigamos” as nossas crianças sem ter consciência dos erros que cometemos?

É preciso sair da norma e usar outros óculos. Os óculos de ver com ternura e simplicidade.

Coloquei esses óculos e agora eu sei que o meu filho está cheio de qualidades.

Para vocês que estão a ler este post… espero que encontrem esses óculos e os usem no dia-a-dia, com os vossos filhos, sem nunca tirar. 
Os óculos não se vendem em nenhuma loja. Cabe a cada um encontrá-los.
São feitos de amor.

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