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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

Seg | 16.07.18

A Santíssima Trindade dos Partos

Ana

Costumo dizer, na brincadeira, para o nascimento do Xavier foram necessárias 4 pessoas: um pai e três "mães". 

Sobre o pai e seu importante papel, falarei em breve.

Já as três mães - uma espécie de Santíssima Trindade dos Partos-  foram a mãe de corpo e alma (eu), a mãe técnica (enfermeira parteira) e a mãe suporte (a minha doula).

 

A mãe de corpo e alma

 

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 Com contrações ainda suportáveis, aproveitei um intervalo para selecionar a primeira roupinha do Xavier.

 

A mãe Ana desejou muito um segundo filho. De preferência, de parto normal.

Há milhares de anos que mulheres de todo o mundo, de várias raças e de vários tribos dão à luz assim. 

Curiosa, a mãe Ana sempre desejou saber o que sentiram essas mulheres durante aquele tipo de parto. E como o fizeram. E como aguentaram.

E que mecanismos fisico-químicos, hormonais, se poem em acção durante o processo. Ou não fosse a mãe Ana bióloga de formação. 

A mãe Ana sempre quis fazer parte do círculo das mulheres que fizeram parto normal.

Sempre quis entender essa espécie de segredo universal que se arrasta desde os primórdios da humanidade.

 

Mas....

 

Para isso, esta mãe teve que ultrapassar vários obstáculos.

A orientação de alguns médicos ("já não tem idade para esse tipo de parto") a descrença dos que a rodeavam ("Ui, vais tentar um parto normal, depois de uma cesariana?).

Mas sobretudo... a mãe Ana teve que ultrapassar a sua própria insegurança.

 

Durante os 9 meses de gravidez, a mãe Ana investigou muito, analisou estudos e teses, recolheu dados estatísticos sobre VBAC.

E foi ficando mais segura da sua decisão.

Para ter a certeza que, desta vez, tudo seria feito para respeitar o seu sonho, a mãe Ana selecionou o melhor hospital e cercou-se de pessoas que acreditam e valorizam o parto normal humanizado.

Para não vacilar ao longo do caminho, a mãe procurou o apoio da equipa da Gimnográvida.

Aí foi buscar o conforto, a tranquilidade e a certeza das suas opções.

No dia do parto... a mãe Ana dirigiu-se ao hospital na companhia do marido e da sua doula. 

Durante largas horas, suou, sofreu, chorou e... gritou.

Mas sempre de olhos postos no objetivo final, a chegada do seu bebé.

Nunca pensou em desistir (embora tivesse ficado muitoooo feliz quando chegou a bendita epidural, eh eh).

De magradugada, o milagre aconteceu. E foi a sensação mais intensa e espetacular do mundo.

Amor imediato, seguido de uma sensação de tranqulidade imensa.

Ao abraçar aquele ser minúsculo, a mãe Ana esqueceu as dores. E percebeu que tudo estava certo.

A mãe Ana está feliz.

 

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 A suar durante uma contração daquelas bem chatinhas... apoiada no CUB (insuflável) as dores melhoravam um pouco.

Nesta fase, ainda estava vestida normalmente: o hospital deixa-nos ficar com a roupa que preferimos até à admnistração da analgesia.

 

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Estava na dúvida se punha aqui esta foto ou ñão (a bata não é lá muito sensual). Mas achei que valia a pena verem a minha cara de felicidade depois da aplicação da episural, ah ah. Neste hospital, a epidural é feita de uma forma que nos permite andar e adotar uma posição verticalizada, o que ajuda imenso à dilatação, para além de ser muito mais dvertido.

 

A mãe técnica

 

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Foi a enfermeira Élia que ficou encarregue do nosso parto, no Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim. Mal a vi entrar na sala de partos, fiquei super contente.

Afinal, enfermeira Élia foi a primeira pessoa com quem falámos quando fomos fazer a visita guiada ao hospital, alguns meses antes. 

Gostei logo dela nessa altura, porque foi muito prestável a responder às nossas dúvidas e inquietações.

Achei engraçado que a mesma enfermeira nos tivesse "calhado" no momento do parto. Como acredito nestas coincidências cósmicas, vi logo que isso só podia ser um bom sinal. 

A enfermeira Élia é uma pessoa com uma boa disposição inesgotável, como aliás todas as enfermeiras do serviço de obstetrícia daquele hospital! E acreditem que isso ajuda muito durante o parto...

Tratou-me sempre com um sorriso no rosto, disse piadas... Sempre que entrava na sala de partos para saber como estavam a correr as coisas, fazia de tudo para tornar o ambiente mais leve. 

Enfim, sei que tentou "fazer conversa" durante as contrações mais fortes para ver se eu me distraía da dor (não conseguiu, mas aprecio a tentativa kkkk)

Comentou a minha playlist musical, perguntou-me pelos alunos...

Lembrava-se de coisas que eu lhe tinha dito naquela curta visita ao hospital, meses antes. Fiquei impressionada!

E basicamente deu-me a melhor notícia que uma mulher poderá receber durante um parto: Dilatação Completa, yeiiii!!!

Foi a enfermeira Élia que, em conjunto com a minha doula, me orientou durante o período expulsivo.

Nunca perdendo a calma, nem a tranqulidade. Mesmo quando eu fiquei a certa altura em pânico, as outras duas "mães" nunca perderam a postura. 

Foi a enfermeira Élia a primeira pessoa que tocou no Xavier. Foi ela que literalmente o agarrou nas alturas, para não se espalmar no chão, uma vez que dei à luz em pé (abençoado hospital que nos permite estas coisas...).

Para a enfermeira Élia, eu poderei ter sido apenas mais uma parturiente naquele já tão concorrido hospital.

Mas para mim ela será sempre especial. 

Obrigada, enfermeira! 

(obrigada a todas as enfermeiras daquele serviço de obstetrícia, que tão bem nos receberam!)

 

 A mãe suporte (doula)

 

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 A enfermeira/doula Joana numa consulta pós-parto, em minha casa. Pesou o bebé, fez teste do pezinho, viu o estado dos meus pontos. Um serviço eficaz.

 

Assim que percebi que queria tentar novamente um parto normal (já tinha tentado antes, mas acabei por ter de fazer uma cesariana de emergência), procurei ativamente todos os que me pudessem ajudar. 

Uma amiga com uma situação bastante semelhante à minha, falou-me da equipa da Gimnográvida.

Decidi que não custava nada ir conhecer este centro de preparação e acompanhamento no parto, situado na Boavista.

Na primeira consulta, poucos minutos de começar a falar com a enfermeira Isabel percebi imediatamente que tinha feito uma boa opção.

A enfermeira Isabel encheu-me de confiança, boas vibrações e energias positivas. Falou-me de estudos científicos, e de dados sobre parto normal (alguns desses já conhecia), sugeriu-me a visualização de alguns documentários sobre o assunto, fez-me um questionário abordando a minha história familiar e motivações...

Tudo isto para me conhecer melhor e poder ajudar-me.

Mais tarde, com o avançar das consultas, conheci também a enfermeira Joana (que acabou por ser a minha doula durante o parto) e 

fiquei cada vez mais segura. A enfermeira Joana é meiga, simpática, profissional e prestável. E revelou-se essencial para o sucesso do meu parto.

 

Nota: A gimnográvida também se dedica a apoiar partos domiciliários. No meu caso, e porque tive cesariana anterior, não quis arriscar e optei por fazer em contexto hospitalar com a doula presente. Quem sabe, no próximo parto (se o houver) não arriscarei algo assim?

 

No dia do parto, comecei a sentir contrações ritmadas por volta das 10 da manhã.

Como não queria ir muito cedo para o hospital, liguei de imediato à Joana (parteira/doula) da Gimnográvida, a qual me disse para cronometrar as contrações, ficando atenta a eventuais perdas de líquido. 

Instalei no meu telemóvel uma app da Google Play para controlo das contrações e passei algum tempo a fazê-lo. 

A Joana disponibilizou-se a vir a minha casa para me apoiar naquele momento, mas disse-lhe para não vir, porque as contrações ainda eram suportáveis. 

O tempo foi passando e a dada altura apercebi-me que estava a perder líquido amniótico em pequenas quantidades.

Liguei novamente à Joana que me disse para analisar a eventual presença de mecónio (não tinha) e começar a pensar em dirigir-me ao hospital. 

Tomei um banho relaxante, dei uma varridela à casa e estendi a roupa (sim, o síndrome do ninho arrumado atacou-me forte naquele momento) e decidi que estava na hora de ligar ao marido. 

Por volt das 6 da tarde chegámos ao hospital. A Joana chegou lá pouco depois disso e nunca mais nos abandonou até ao bebé nascer.

Com a sua experiência, deixou-nos mais tranquilos e confiantes. Quando uma contração vinha mais forte, acalmava-me dizendo que era "menos uma a faltar para o bebé nascer". 

Á medida que a dor ia aumentando, foi propondo estratégias para que eu conseguisse relaxar. Conduziu-me ao chuveiro do hospital, onde estive cerca de 40 minutos (please, não me mandem a conta da água). E que bem que souberam aqueles jatos relaxantes. 

Sugeriu-me exercícios na bola de pilates, fez-me massagens nas costas. Foi passear comigo e com o meu marido para as traseiras do hospital, para acelerar a dilatação. Quando vomitei (3 vezes...) descansou-me dizendo que era normal.

Dançou comigo no intervalo das contrações e sorriu sempre, sem mostrar inquietação.

Não me mandou pastar em nenhuma das vezes em que lhe apertei a mão com força, quase a ponto de lhe partir os dedos.

E nem quando entrei na "partolândia" e comecei a dizer coisas estranhas (sim, acontece...) ela se mostrou surpreendida ou chateada.

Assim que atingi a dilatação máxima, a Joana fez equipa com o meu marido e com a enfermeira para me guiarem na saída do bebé. 

Uma vez mais, a sua calma e segurança, transmitiram-me força.

Assim que o bebé nasceu, a minha doula transformou-se numa fotógrafa, registando os primeiros momentos do Xavier. 

Sei que ela teria gostado que eu conseguisse fazer "tudo" sem levar a bendita epidural. 

Mas assim que decidi optar pela analgesia, descansou-me dizendo que eu estava ali para dar à luz. Não era para ganhar nenhuma medalha, era para fazer nascer um bebé.

Já de magrugada, e antes de abandonar a nossa (já silenciosa) sala de parto, despediu-se com um beijinho e disse-me ao ouvido:

"És uma guerreira e saíste vitoriosa desta batalha. Nunca te esqueças disso".

 

Houve muitos guerreiros neste parto (incluindo o próprio Xavier). Mas foi uma guerra que valeu a pena travar.

Obrigada a todos...

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