Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

Ter | 31.03.20

Dia 17: ajudar o próximo

Ana

A covid-19 poderá ter mudado muitas coisas neste mundo. Mas há coisas que continuam iguais.
Continuam a existir pessoas com dificuldades e a precisar da nossa ajuda. Agora, se calhar, mais do que nunca!

Ontem foi dia de dar o meu modesto contributo ao Refood.

E vocês? Já ajudaram a Refood a ajudar quem mais precisa? Se cada um de nós contribuir um pouquinho, no final "tudo irá correr bem".
Abraço!❤️🌈

90623721_1183696405306231_8267588530406948864_o.jpg

 

91454056_1183696475306224_1526359303152205824_o.jpg

 

Dom | 22.03.20

Numa semana...

Ana

Os meus filhos passaram a acordar às oito ou às nove da manhã, em vez das sete da manhã habituais.
Vão para a sala, brincam um com o outro e já não há ninguém a dizer "despacha-te que temos que ir para a escola!".
Tomam o pequeno-almoço com calma e continuam a brincar, explorando agora com muito mais detalhe os brinquedos que receberam nos anos e no natal.

Fazemos brinquedos novos com material reutilizado.
Em apenas 7 dias começámos a olhar para todas as caixas, fitas, plásticos e recipientes de outra forma, percebendo que esses objetos podem ser transformados noutras coisas.

Jogamos bowling com pacotes de leite e criamos fantoches com rolos de papel higiénico. Brevemente, vamos transformar pequenas caixas em apartamentos de uma mini cidade.

Temos sessões de culinária todos os dias. Já confeccionámos bolos, panquecas, mousse de chocolate, baba de camelo e outras tantas iguarias que antes do isolamento raramente apareceriam cá em casa, por falta de tempo.

Tempo... temos TEMPO para tudo agora! Até para nos zangarmos e fazermos novamente as pazes.

Antigamente, chegávamos tarde e não queríamos zangar-nos com os nossos filhos. Mesmo quando eles se portavam mal.
Tínhamos conflitos internos na hora de os pôr de castigo, porque só estávamos com eles algumas horas por dia e não queríamos passar essas horas chateados uns com os outros.

Queríamos que aqueles finais de dia fossem repletos de boas lembranças e não de sermões e castigos... a verdade é essa.

Mas agora... agora sabemos que podemos educar, dialogar, resmungar e até punir alguns comportamentos... e não há problema. Não há problema, porque também temos tempo para sermos felizes de novo, para voltarmos a ficar bem uns com os outros.

Parte da culpa que os pais carregavam no dia-a-dia... desapareceu. E os miúdos até já colaboram na limpeza da casa, sem que nos sintamos uns cretinos por lhes passar um paninho do pó para as mãos )

Em toda esta semana... o Vasco nunca falou da escola. Nunca referiu ter saudades dos amigos (embora eu saiba que quando os vir, vai pular de alegria). Nunca manifestou desânimo por estar em casa com a mãe.
Antes pelo contrário!
Vejo-o feliz, saltitante e com mais disponibilidade para aprender coisas.
Fazemos puzzles, vemos vídeos sobre o corpo humano, desenterrámos os jogos de cálculo, números e letras que ele nunca até agora quis jogar. Temos pequenas lições de inglês e lemos imensas histórias. E até já fomos passear para uma floresta silenciosa e verdejante, suficientemente isolada do mundo para não sermos contagiados pelo vírus.

O Xavier anda por aqui por casa todo contente, sempre agarrado às minhas pernas e a seguir-me para todo o lado, como um cachorrinho feliz.

E vocês perguntam: mas então, nunca fizeste nada disso quando não existia esta pandemia?
Nunca fizeste jogos?! Nunca cozinhaste com os miúdos?! Nunca reutilizaste materiais?

Claro que sim!! Mas era tudo mais pontual e fragmentado. Entre o trabalho e as diversas obrigações que fazem parte da vida de um adulto, acabávamos por fazer tudo... a correr.

E portanto...

Há milhares de vidas humanas a terminar por causa deste vírus.
Há avós que já não estão com os netos desde que o isolamento começou.
Há médicos e enfermeiros no limite das suas forças a tentar ajudar todos os que enfrentam os efeitos da pandemia.
Há toda uma economia a desmoronar-se e o nosso ganha-pão está a derrocar com ela. É tudo tão mau!!

Mas os FILHOS (a maior parte dos filhos...) nunca estiveram tão FELIZES. A verdade é essa.

Por isso digam-me...

Como é que algo tão triste como um vírus mortífero pode, em determinados momentos (e diferentes contextos), originar felicidade?

Se está tudo tão errado... como pode parecer tão certo?

20200319_112222.jpg

 

 

Qua | 18.03.20

Tentar o teletrabalho com crianças em casa

Ana

Tenho recebido alguns convites para me juntar a grupos de trabalho online, e-learning, plataformas virtuais, etc.
Agradeço o convite, mas quero dizer-vos uma coisa... estou sozinha em casa com dois miúdos de 1 e 4 anos! O marido ainda vai trabalhar.

Acham mesmo que tenho tempo para fazer o que quer que seja? 😉 Só consigo ter um tempinho livre lá para as 11 da noite e aí já estou completamente de rastos.

O Xavier ainda dorme a sesta e o Vasco... O Vasco precisa de atenção quando o mano está a dormir.

É entre as 15 e as 17h30 que consigo finalmente por o Vasco a pintar, a fazer puzzles, a estudar, a desenhar, enfim, a fazer algo útil. Porque quando o maninho está acordado as brincadeiras são adaptadas aos dois e há brigas constantes porque o bebé quer pegar em tudo. 😥

Por isso, sou forçada a concluir:: se para uns a quarentena vai saber a férias (séries de netflix, leitura de livros, sestas no sofá) para outros, será uma espécie de licença de maternidade tardia, sem fim à vista e com a agravante de não poder sair de casa 😉

Antes que comecem com coisas... eu adoro os meus filhos, adoro passar tempo com eles, está a ser muito fixe em imensos sentidos, eles estão a adorar, estamos a reforçar laços e blá blá. Mas não está a ser fácil fazer teletrabalho com eles. Só isso :)

90000319_1172775513064987_5570158286071660544_o.jpg

 

Dom | 15.03.20

Separados.... mas mais unidos que nunca!

Ana

Os nossos bisavós viveram no tempo da primeira guerra mundial, evento que mobilizou milhares de soldados.
Os nossos avós, por sua vez, vivenciaram a segunda guerra. Um acontecimento que pôs meio mundo a combater!
E a nossa geração? O que temos nós para contar?
Bem... Nós experienciámos a passagem do covid -19 pelo planeta. Um evento que fez o mundo parar.

Durante muito tempo, pediram-nos para agir heroicamente. Para fazer coisas! Para irmos para a rua com cartazes, para fazermos manifestações pelo ambiente, palestras e caminhadas a favor disto ou daquilo...
Mas isso foram outras lutas e outras guerras!

Nesta guerra... herói é quem fica em casa. Quem se isola e respeita as indicações.

Pedem-nos novamente para lutar. Mas desta vez a luta é em nossa casa. É aí que devemos permanecer se queremos ser verdadeiros heróis.

Por isso... fica em casa e não faças mais nada.
E se tudo correr bem, um dia vais contar aos teus netos sobre a única guerra que se travou sem soldados, sem mísseis, sem tanques e sem metralhadoras.
A única guerra que ao isolar cada indivíduo na sua casa... nos uniu como nunca.
A única guerra que nos tornou mais fortes

Dom | 01.03.20

Sobre as más companhias

Ana

Podem até achar que não. Mas nos meus tempos de adolescente, início dos anos 90 do século passado, os desafios impostos aos pais eram praticamente os mesmos de hoje.
Garantir a segurança das crianças... semear bons valores, promover o sucesso na escola e... claro está, afastar-nos das "más companhias"!
Eram estas as preocupações dos nossos progenitores.
Mas havia uma diferença abismal entre aquilo que se chamavam "más companhias" no passado, e o conceito de más companhias de hoje.
Nos anos 90, as más companhias eram pessoas reais, com quem nós, efectivamente, contactávamos. Podiam ser amigos da rua, colegas de escola ou membros da equipa de futebol... Eram rostos reais, aqueles que atemorizavam os nossos pais e os levavam muitas vezes (em último recurso) a mudar-nos de turma ou de escola...
As más companhias eram o Manel que nos queria iniciar nos charros e nos levava para trás do pavilhão da escola com uma palete de tentações no bolso. Era a Margarida, rapariga sabida e muito rodada nas lides da sensualidade, que nos despertava a curiosidade para assuntos que nos faziam corar.
Era o Pimenta, duas vezes repetente e que acabou por ir parar à Tele-Escola, que nos aliciava a ir roubar coisas para o Pingo Doce... só porque dava pica.
Esses eram os amigos que os nossos pais queriam ver longe, longeeeee!
E era por causa desses amigos que levávamos alguns bons tabefes, ora porque começávamos a cantar de galo como o João (vê lá se baixas a bolinha, que cá em casa não cantas!) ora porque faltávamos a uma aula para ir com a Sónia comprar gomas à loja do senhor Jacinto.

Hoje não.

Os demónios que causam insónias aos pais já não se chamam coisas normais. Chamam-se Dr. X, Super Zen e coisas que tal.
Já não são miúdos da escola: são youtubers, pessoas virtuais.
Já não são adolescentes como o nossos filhos! São muitas vezes adultos, se bem que apenas em idade cronológica.

Os heróis dos nossos filhos já não são atores de cinema.
Os exemplos que os nossos filhos querem seguir, já não são os exemplos dos pais, e a verdade é que bocejam de tédio com as lições que lhes queremos ensinar.
A sabedoria que os nossos filhos querem assimilar, já não é a dos professores. É a sabedoria de um indivíduo qualquer que decidiu que era giro ser influencer.

Quando um youtuber acaba com a sua namorada em direto, fazendo-a chorar baba e ranho e esse vídeo tem milhares de visualizações.... isto dá um bocado de medo.

Eu não vou dizer que "no meu tempo é que era bom". Nós também tínhamos a nossa dose de parvalheira, mas pelo menos éramos originais.

Quando o David se lembrou de queimar borrachas numa aula de oitavo ano e tivemos todos que sair da sala porque ninguém aguentava o cheiro a queimado... isso foi assim a modos que indecento-parvo.
Mas pelo menos a ideia foi dele (terá registado a patente?), não a copiou de nenhum canal de youtube.

Hoje, os youtubers ensinam História, Geografia e Ciências aos nossos miúdos. Eu própria uso muitos vídeos de Youtubers "bonzinhos" nas minhas aulas. E os alunos adoram.
Mas depois também há aqueles que ensinam racismo, desigualdade e desconsideração. E está tudo metido no mesmo saco; o saco da internet.

Podemos mudar o nosso filho de turma ou de escola, mas estes "amigos da onça" vão acompanhá-lo sempre. Estão metidos no seu telemóvel, que pode ser consultado a qualquer momento e a qualquer hora. E parecem levar sempre a melhor.

Tempos difíceis, aqueles em que vivemos. Mas não vale a pena chorar pelos riscos que os nossos filhos correm na internet.
Estanquemos as lágrimas de desespero. E entreguemos todos os lenços de mão àquela rapariga desolada, cujo namorado youtuber humilhou em direto.

Neste momento, ela será ex-namorada de um dos rapazes mais famosos imbecis do país.

Choremos por ela.