Nunca quis ser mãe
Nunca quis ser mãe. Nunca tive esse sonho, essa ambição secreta.
Quando era miúda, ao contrário das minhas amigas que adoravam pegar em bebés, eu reagia com indiferença.
Preferia ficar a brincar com as minhas bonecas. Preferia os bebés de plástico aos bebés de verdade.
Mais tarde, na universidade, por divertimento consultei uma "astróloga" para saber do meu futuro.
Entre outras coisas, juntando todos os dados do meu mapa astral, a senhora chegou a um veredicto:
"Não vais casar"... "Não vais ter filhos"
Confesso que não me importei muito com a previsão.
Rapariga nova e cheia de sonhos, não me via tão cedo como uma "moça casadoura". E quanto aos filhos... honestamente... continuava a não achar graça nenhuma às criancinhas.
Os anos foram passando. Algumas colegas casaram, outras tiveram filhos. E passei a ser convidada para as festas de anos dos miúdos.
Uma vez mais, aceitava ir às festas pela forte amizade que sentia pelas minhas amigas. Porque sabia que a minha presença era importante para elas.
Mas chegava lá, entregava a prenda aos putos e não lhes fazia grande festa.
Sempre pensei, com convicção, que o "instinto maternal" era uma coisa que não fazia parte de mim.
Por isso, o planeamento do meu primeiro filho, foi uma opção muito mais racional do que propriamente emotiva.
Quis ter um filho porque encontrei o companheiro certo, o momento certo e o contexto ideal.
Senti que não poderia amar mais alguém como amo o meu marido e, por isso, seria ele o parceiro certo para embarcar na "aventura".
Quis ter um filho também por antecipação. Porque tive receio de mais tarde me arrepender de não o ter feito.
Quis ter um filho por medo. Medo de um dia ter 50 anos e pensar: "Quem me dera tanto ter um filho!"
E nesse momento... já ser tarde de mais,
Concebi um filho. Mas nunca sonhei verdadeiramente em ser MÃE. E passei grande parte da vida a acreditar que esse futuro não seria o meu,
Até ao dia do nascimento do meu filho.
Aí... tudo mudou.
Apaixonei-me por ele no primeiro minuto, no primeiro segundo!
Dediquei-me a ele de alma e coração. Cuidei dele com todo o fervor.
Amamentei o máximo que pude. Dei-lhe tudo. DOU tudo.
Vou buscar energia ao fim do mundo, mesmo quando todo o meu corpo já é cansaço.
Adoro ser mãe. Adoro que ele seja meu filho.
Não conseguiria viver sem ele. E só de pensar nisso já me arrepio.
Dou-lhe colo, mimos, amor, atenção.
E não. Não é forçado. Não há aqui qualquer premeditação ou esforço.
Honestamente.... continuo a ser um pouco indiferente aos miúdos dos outros.
Não me apetece pegar nos outros bebés. Nem me apetece fazer gu-gu-da-da nas bochechas deles.
Mas apetece-me pegar no meu. E ao meu apertava todos os dias as bochechinhas.
Nunca pensei que ter filhos me preenchesse tanto a alma. E só agradeço a Deus, todos os dias, por ter tomado essa decisão.
Para além de que tudo agora faz mais sentido. Muitas coisas que eu não percebia, muitas situações do passado que não consegui entender...
... agora entendo. Entendo muito bem.
Estou sentada a escrever este post, enquanto o meu filho faz um puzzle no tapete da sala.
Nos momentos simples reside a felicidade maior!!
Não. Nunca quis ter filhos. Tive muitos outros projetos, tive outras ambições às quais me dediquei de corpo e alma.
Mas já não me vejo sem ser mãe.
E por esta realidade "não sonhada", troco todos os outros sonhos que tive.
Por este amor surpreendente... coloco todas as ambições numa prateleira.
Sinto que sou capaz de largar tudo e de abdicar de tudo, menos de ser mãe.
E esta, hein? :))