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O Triângulo Perfeito

A vida de uma família perfeitamente normal

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Dom | 25.06.17

Pedrogão Grande

Ana

No fim-de-semana da tragédia de Pedrogão Grande, estava em Moncorvo com a minha famíllia. Viajámos até Trás-os-Montes para reencontrar amigos e também para visitar a exposição fotográfica de João Pedro Camelo no museu de Foz Coa.

 

Não nos arrependemos. A exposição é linda. Mas não é disso que hoje vou falar.


Em Moncorvo estava quente. Tempo abafado. Sol abrasador... Fiz até uma piada no meu instagram, sobre os 40 graus daquelas bandas. Longe de mim pensar que num outro Portugal estava ainda mais quente. A piada perdeu-se. Ficou a foto. 


Quando soubemos da tragédia de Pedrogão Grande, estávamos a sair da piscina na Quinta da Terrincha. Foi nessa quinta que pernoitamos de sábado para domingo. Um sítio lindo com uma vista desafogada para o vale serpenteado pelo rio Sabor.
Parece que uns dias depois, esse mesmo vale também ardeu. Felizmente, já não estávamos lá. A vida é feita de sortes. Ou de azares. E este post, como já se viu, é feito de lugares comuns.


A quinta da Terrincha é um lugar espantoso. Voltaria a esse lugar todos os sábados da minha vida. Mas também não é disso que hoje vou falar.


Voltando à piscina.
Descansando numa espreguiçadeira, fomos clicando no telemóvel para saber as atualizações dramáticas. No início,  "19 mortos". Depois passaram para 40 e tal. No dia seguinte, soubemos que eram mais de 60. Um horror.

 

Avancemos uns frames.
É domingo. É domingo e relaxamos no restaurante do museu.
Come-se bem. Bebe-se ainda melhor. Damos muita água aos putos para ficarem hidratadinhos. Há gente que se queixa do calor. Abanamos leques feitos de guardanapos. Aqui e ali ouvem-se risos. Sabemos que noutras latitudes já não há mais lágrimas para chorar. Mas disfarçamos a dor. É um fim de semana de lazer. Não se querem aqui conversas tristes. 

 

O restaurante do museu seria (se não fosse pelo facto de o miúdo não ter parado quieto um segundinho) o melhor local do mundo para namorar. 
Mas não. Ainda não é disso que hoje vou falar.

 

No domingo à noite regressámos a nossa casa no Minho. A viagem foi grande e o carro ia mais lento e mais pesado, à custa das cerejas, das nêsperas, dos limões, e dos legumes que a mãe do João, como boa transmontana nos quis dar.
Que maravilha de cerejas! Que bela prenda! Muito obrigada amigos pela vossa hospitalidade!
Tínhamos passado todo o fim de semana a (fingir) ignorar a tragédia. Camuflando Pedrogão Grande nas conversas banais, nas piadas e nos múltiplos afazeres à volta dos bebés.

 

Mas o nosso lar, a nossa casa é também o lugar onde nos deixamos ir. No sofá, com mais tempo, leem-se com calma as notícias. Clicam-se em todos os vídeos. Absorvem-se as imagens. Ouvem-se todos os testemunhos. Sufocados, choramos finalmente a dor alheia. Que é dos outros e é de todos nós. 

 


Já passaram tantos dias e ainda não consegui libertar-me da tristeza que o fogo de Pedrogão acendeu.

No fim-de-semana da tragédia de Pedrogão Grande, estive em Moncorvo com a minha família. E tinha tanto para vos contar sobre o assunto. Tantos posts, tantas sensações e tantas fotografias.

 

Mas não é possível ainda. E não é disso que hoje vou falar.

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